A vida passa depressa de mais. As circunstâncias do mundo contemporâneo, retratadas numa constante mutação, fazem de nós seres mecânicos e desumanizados, demasiadamente focados no nosso aqui e agora. As exigências são tantas e tão diversas, que em tantos momentos nos esquecemos de viver e de saborear cada momento, com a noção de será irrepetível.
Vivemos com a ansiedade permanente de abraçar, de igual modo, todas as esferas da nossa vida, porque queremos corresponder a expectativas (nossas e dos outros) em termos pessoais, familiares, sociais e profissionais. Não obstante, sentimos que o tempo é curto e não raras vezes a nossa disponibilidade também. Disponibilidade para escutar, para partilhar, para refletir e para acalmar, quando é necessário.
Perdemos assim oportunidades maravilhosas de viver bem, de gerar emoções e sentimentos positivos. E os sorrisos e as gargalhadas que ganhávamos se o nosso tempo fosse outro? Há muitos focos externos, pouco permeáveis e nada humanizados, que apontam para nós, não enquanto seres livres na sua idiossincrasia, mas enquanto resultado expectado, em função de cada papel social que desempenhamos. E nós vivemos assim, dia após dia, sem nos darmos conta, de como isto é castrador, na nossa (única) vida.
A nossa existência é tão fugaz, tal como os nossos pensamentos sobre ela, o que pode comprometer a humanidade dos nossos comportamentos e atitudes, por termos a falsa sensação de que haverá sempre tempo. Porém, quando algo nos faz parar e a reflexão nos leva a concluir que falhamos com alguém, que o que se perdeu é irreparável, porque é tarde de mais para muita coisa, que ficou por dizer ou por fazer, aí sim, certamente isso nos dilacera, mas também pode servir para estimular o reencontro com novas perspetivas, cujo epicentro é a humanização. Haja esperança!
Somos seres sociais, isso é incontornável. São as relações que estabelecemos com os outros, que nos permitem sentir vivos e a qualidade dessas relações assumem uma forte preponderância, no quão podemos sentir-nos felizes e realizados enquanto seres humanos. Mas, parece que à medida que o mundo avança, temos menos tempo para cultivar a felicidade, em nós e nos outros.
Estamos a entrar numa escalada sucessiva de desumanização da nossa essência, relegando para segundo plano os laços afetivos, as emoções e os sentimentos, nossos e dos outros, com todas as consequências nefastas que isto pode acarretar, no imediato, porque passamos a esperar cada vez menos dos outros e vice versa e a longo prazo, estamos a perpetuar a desumanização. Não precisaremos nós, de repensar a nossa existência?
Afinal, em última instância o nosso propósito, não será fazer da vida um caminho feliz, onde ser humano é literalmente o que define na plenitude a nossa mais pura missão? Precisamos de deixar falar mais o nosso coração, para que não nos esqueçamos de ser humanos!
Vera Matos
Assistente Social | Junta de Freguesia de Alfena
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