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Foto do escritorAlfena Global

Em nome da igualdade e da inclusão, a maioria é deixada de fora


Um “livro de estilo” é um conjunto de regras que as organizações tendem a impor aos seus funcionários com o objetivo de uniformizarem a imagem corporativa por eles transmitida ao exterior.

A Universidade de Manchester, uma das maiores e mais conceituadas de Inglaterra, atualizou recentemente o seu guia, a um nível que mereceu destaque. Os seus funcionários, sempre que tenham de falar ou escrever em nome da organização, estão proibidos de usar termos binários (que tenham duas categorias, masculino /feminino). Por exemplo, nessa nova língua, mulher/homem deixam de existir, substituídos por “pessoa”; mãe/pai também, substituídos por “progenitor” ou “guardião” (palavras que em inglês, ao contrário do português, não têm género); mulher/marido por “companion” (“companheiro(a)”, sem género no inglês); irmã/irmão por “sibling” (palavra equivalente, sem género). Tudo isto em nome da igualdade e da inclusão.


Lê-se e sorri-se. Uma brincadeira, pensa-se. Errado. É assunto sério, enquadrado numa onda gigantesca de imposição de atitudes “politicamente corretas”. Inicialmente umas “modernices” difundidas pelas redes sociais, a imposição de atitudes e a desconstrução da linguagem, com o objetivo de padronizar e controlar comportamentos sociais, tem ganhado terreno ao ponto de “aprisionar” instituições como a referida. A própria União Europeia, num documento similar designado “Comunicação Inclusiva”, refere, no preâmbulo, que “O primeiro passo para um ambiente de trabalho saudável e inclusivo é a utilização de uma linguagem e de conteúdos visuais inclusivos que reconheçam e reflitam a diversidade e estejam isentos de preconceitos inconscientes.” Portanto, designar alguém por pai ou mãe, irmã ou irmão, é um “preconceito inconsciente”, uma falta que importa cortar pela raiz.


Pergunta-se: tratar por “pessoa” alguém que é e se assume como mulher ou homem não é em si mesmo uma forma de exclusão? Julga-se que é. Mais, não se percebe como através destes ataques à liberdade de pensar e de falar se atingirá um nível superior de inclusão e de igualdade, predicados que têm de resultar de atos deliberados assentes na compreensão e aceitação do outro. A não ser que o objetivo seja estabelecer uma espécie de ditadura, em que uma minoria “bem-pensante” condiciona a maioria, arbitrariamente, impondo-lhe um padrão de pensamento e de expressão.


Quando a tentativa de controlo chega a este ponto começa-se a pensar no ambiente ficcionado por George Orwell, no seu romance 1984, em que os cidadãos são controlados pelo “Big Brother” (com câmaras de vídeo, como no concurso da TVI) e lhes é imposta uma “novilíngua” (em que as palavras têm um sentido oposto ao do sentir dos cidadãos). Uma leitura que se recomenda, pela reflexão que induz sobre esta onda de “politicamente correto” que nos ameaça submergir, mas também sobre o papel que as redes sociais, com a “ditadura dos ‘likes’”, têm no controlo exercido sobre o pensar e agir de cada um.


José António Cardoso, dr.

Professor Universitário | Faculdade de Economia

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