A sessão solene comemorativa do 25 de Abril decorreu, pelo segundo ano consecutivo, em período de estado de emergência. Foi o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, quem fez a primeira intervenção, onde ressalvou "serem marcantes as realizações da Democracia", contudo, entende que o 25 de Abril não acabou com "as ideias e os valores" da ditadura.
No discurso de encerramento da sessão evocativa, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, destacou ser necessário retirar lições do passado e assumi-lo, nomeadamente da Guerra Colonial, "sem autojustificações nem autoflagelações”.
Marcelo Rebelo de Sousa começou o seu discurso por referir que “passaram, há um mês, 60 anos de um tempo que havia de anteceder a data de hoje”, numa alusão à guerra colonial.
"É tão difícil, senão impossível explicar esses 13 anos, sem falar dos períodos antes", explicou Marcelo. "Olhar com os olhos de hoje e tentar olhar com os olhos do passado não é fácil de entender”, diz o Presidente da República, sublinhando que “outros nos olharão no futuro de forma diversa dos nossos olhos de hoje”.
O Presidente afirma que há, no olhar de hoje uma “densidade personalista, de respeito da dignidade da pessoa humana, da condenação da escravatura e do esclavagismo, na recusa do racismo e das demais xenofobias que se foi apurando, representando um avanço cultural e civilizacional irreversível”, considerando que é “uma missão ingrata a de julgar o passado com os olhos de hoje sem exigir, nalgumas situações, aos que viveram esse passado, que pudessem antecipar valores ou o seu entendimento para nós agora tidos como evidentes, intemporais e universais”.
Mas o presidente da república não esqueceu os capitães de Abril, afirmando que estes “não vieram de outras galáxias, nem de outras nações, nem surgiram num ápice naquela madrugada para fazerem História”.
Estes, os capitães de abril, “transportavam consigo já a sua história, as suas comissões em África… tendo de optar todos os dias entre cumprir ou questionar, entre aceitar ou romper. Tudo em situações em que a linha que separa o viver e morrer é muito ténue”.
Foram estes homens, refere Marcelo Rebelo de Sousa, os heróis daquela madrugada do 25 de Abril. Para Marcelo, o dia da revolução “foi o resultado de décadas de resistência e grito de revolta de militares, que sentiam combater sem futuro político visível ou viável”.
25 Abril não erradicou ideias da ditadura
O presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, considera que apesar de o 25 de Abril ter trazido “inúmeras conquistas”, “não logrou ainda erradicar, em Portugal, as ideias e os valores que caracterizaram aquele período negro da nossa história, muitos deles adormecidos desde então”.
Uma das grandes virtudes da democracia e da liberdade, sublinhou o responsável, “é a de permitir a convivência entre todos os credos políticos, incluindo os antidemocratas”. Mas Ferro Rodrigues apontou o dedo às redes sociais, “os promotores de falsas notícias, de ódio, de desinformação, de calúnias, de mentiras, contam-se por muitas centenas, e atingem milhões de alvos”.
Também o Presidente da Assembleia da República destacou, no seu discurso, as guerras coloniais que se iniciaram há 60 anos e que a Revolução de Abril colocou um ponto final.
Mas “60 anos volvidos, há ainda marcas bem presentes deste passado, como sejam os discursos xenófobos e racistas em algumas franjas da sociedade ou algumas representações sociais do período colonial”, afirmou Ferro Rodrigues, para quem este é um “sinal de feridas abertas, ou, melhor, de feridas ainda não completamente saradas”, sinais “não podemos ignorar”.
Junta de Freguesia destacou a Guerra Colonial
No 25 de Abril de 1974 o presidente da Junta de Freguesia de Alfena, Arnaldo Pinto Soares, estava na Faculdade de Economia, do Porto. "Era muito jovem. Por isso, as memórias que tenho é de não termos aulas, do reboliço que era dentro da faculdade. A primeira ideia que eu tenho é que, de facto, a escola se tinha transformado e que eram os alunos que mandavam", recordou.
Hoje, olhando para trás, o autarca considera que o 25 de abril transformou o país. "E todos aqueles que conseguiram fazer e Portugal aquilo que ele É e nós que queremos que ele continue a melhorar, só temos que renovar os ideais de abril. É isso que eu espero que continuemos a fazer para que possamos deixar um país melhor aos nossos filhos e aos nossos netos, às gerações vindouras".
A Junta de Freguesia de Alfena seguiu a mesma linha de pensamento e na rubrica "Conta-me como era" ouviu ex militares e famílias que passaram e viveram a Guerra Colonial.
O vídeo pode ser visto na íntegra na Página do Facebook da Junta de Freguesia de Alfena.
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